Por vezes, quando a frustração nos assola, temos a nítida sensação de que tudo corre mal e não há como piorar. Esse dia chegou à minha vida numa véspera de Natal, em que me vi sentada numa poltrona preta de uma pequena sala de enfermaria localizada na urgência obstétrica de um hospital.
Quando me mandaram sentar naquela poltrona, o meu mundo ruiu. Era aquela mesma poltrona! Nem acreditava que me ia sentar ali pela segunda vez. Agora a situação era bastante mais delicada, suspeitas de uma gravidez ectópica (que se desenvolve fora do útero).
Fui apresentada aquela poltrona preta, aquando de um aborto involuntário que sofri meses antes. Ali sentada, vivi os dois piores momentos da minha vida. Ali, senti as piores dores do corpo e da alma e quando estas duas se unem, perdemos a noção de qual delas dói mais.
Naquela véspera de Natal, ali sentada naquela poltrona preta, senti–me no cimo de um precipício, um passo em frente e seria o meu fim, tal era o meu desgaste emocional. Sempre fui uma pessoa otimista, alegre e de sorriso fácil, mas ali sentada naquela poltrona preta, senti pena de mim. Dois abortos sucessivos e uma imensa frustração.
Após vários exames médicos verificou -se que tinha uma excelente saúde e nada justificava os dois abortos. Como não foi encontrado nenhum fator que pudesse originar os abortos, também não foram prescritos tratamentos. Foram simplesmente dois azares na vida.
Eu e o Miguel, enquanto casal, já tínhamos alguma sensibilidade e curiosidade sobre a influência dos fatores ambientais sobre os seres vivos. Como já não éramos leigos nestes assuntos, sabíamos que os abortos são muito comuns em mulheres que vivem em “casas doentes”. As constantes insónias, as dores de cabeça matinais e frequentes que diminuem com o decorrer do dia e o acordar mais cansados do que quando nos deitávamos foram alguns dos sintomas de alerta.
Numa procura desesperada por respostas e soluções, iniciamos uma pesquisa para encontrar um profissional qualificado que pudesse realizar o estudo da nossa habitação. Encontramos imensos e maravilhosos Mestres de Feng Shui, com variadas e diferentes formas de trabalhar e harmonizar o espaço, sendo que nenhum deles realizava estudos de Geobiologia e Biohabitabilidade. Tínhamos conhecimento sobre a importância da Geobiologia na saúde dos espaços e como tal, pretendíamos encontrar um profissional que pudesse ir a nossa casa efetuar, com recurso a equipamentos de medição profissionais, uma análise do nosso espaço com base em parâmetros cientificamente estudados e comprovados. E com base nessa análise nos apresentasse os problemas detetados e as respetivas soluções para os minimizar e/ou resolver, e dessa forma podermos usufruir de um “ambiente” mais propício à nossa saúde.
Como não o encontramos, decidimos ser nós a trilhar esse caminho. Aplicamos e testamos tudo o que estudamos na nossa casa. Aprendemos a ver o mundo com uns olhos mais atentos.
Achava eu, enquanto arquiteta, que já era atenta e exigente na procura de habitação. Por isso antes de arrendar o nosso apartamento, certifiquei -me que este teria uma boa iluminação e exposição solar. Da varanda do meu quarto, via uma paisagem constituída por um lago com patos, um parque de estacionamento automóvel, um relvado com alguns pinheiros, blocos de apartamentos ao fundo e até ouvíamos os pássaros a cantar pela manhã…
Mas ironicamente nunca tinha visto, com olhos de ver, dois postes de média/alta tensão e um transformador de uma companhia elétrica, mesmo em frente à varanda do nosso quarto. Para agravar esta situação, dormíamos num colchão com molas assente num estrado metálico que funcionava como “antena” de captação de campos elétricos e eletromagnéticos existentes no exterior. Estas radiações artificiais que por si, já são altamente nefastas, ainda “alimentavam” a intensidade das radiações telúricas (da Terra) provenientes de um cruzamento de linhas Hartmann sob a qual eu dormia.
Num apartamento arrendado a solução foi simples, trocar de casa.
Nessa mesma época, ambos vivíamos uma insatisfação e frustração a nível profissional. Eu, para além da precariedade comum aos jovens arquitetos da minha geração, também vivia numa constante procura pela minha identidade enquanto arquiteta. O Miguel é licenciado em Geografia e ao realizar uma especialização em Higiene, Segurança e Saúde no Trabalho, teve pela primeira vez contacto com o tema da influência das radiações na saúde humana.
Agora olhamos para traz e vemos que foi um longo e doloroso percurso, mas os frutos que dele surgiram são maravilhosos. Fundamos uma empresa de arquitetura e consultoria ambiental, a Habitat Saudável® e, após uma gravidez saudável e feliz, nasceu o nosso bem mais precioso, o nosso filho Santiago. E quando tudo começa a correr bem, a frustração vai embora e iniciamos um ciclo maravilhoso nas nossas vidas, eis que surge o convite para escrever este livro…
Marcelina Guimarães in UMA CASA MAIS SAUDÁVEL, UMA FAMÍLIA MAIS FELIZ ⠀
Autores: Marcelina Guimarães e Miguel Fernandes⠀
Editor: A esfera dos livros