A saúde humana é profundamente influenciada pelo ambiente em que vivemos, e as nossas casas, que deveriam ser espaços de conforto e segurança, podem, por vezes, ocultar perigos que afetam o nosso bem-estar. A geobiologia, ciência que estuda a relação entre os ambientes naturais e a saúde, tem revelado fatores invisíveis que podem comprometer seriamente a nossa qualidade de vida.
Neste artigo, exploramos um caso pioneiro em França, conduzido pelo médico Dr. Picard em 1963, que lançou luz sobre a possível relação entre as condições do subsolo das habitações e o desenvolvimento de doenças oncológicas. A investigação revelou dados surpreendentes que continuam a ser relevantes para o design de espaços saudáveis.
«…o médico francês de seu nome Picard demonstrou especial interesse pela problemática das “casas cancro” quando, em 1963, é confrontado por uma situação insólita que aguça a sua curiosidade. A história inicia-se com dois dos seus pacientes que residiam num mesmo edifício implantado em Moulins, localidade onde o Dr. Picard desenvolvia a sua atividade médica. O referido edifício de habitação coletiva mais parecia um hospital, tal era o número de doentes que o habitavam. No primeiro piso, uma mulher padecia de cancro no útero em estádio avançado e um homem de cancro na próstata. Já no segundo piso, uma menina de treze anos perdera a vida precocemente. Esta fora-lhe roubada após três anos de doença, por um reticulosarcoma, mais especificamente um linfoma maligno na zona da púbis. Com tal perda, a família opta por mudar de habitação. O apartamento vago rapidamente foi ocupado por uma outra família com dois meninos de onze anos que passaram a dormir no mesmo quarto em que a menina havia falecido, e na mesma vertical dos demais casos patológicos verificados no prédio. Em apenas dois anos de exposição diária ao elevado nível de radiações telúricas, o menino que dormia na zona mais afetada do quarto começou a queixar-se da dificuldade em mover a sua perna direita. A radiografia é clara e o diagnóstico não deixa qualquer dúvida, o menino padecia exatamente da mesma doença que a menina falecida dois anos antes.
Perplexo com tão surpreendentes coincidências, Dr. Picard questionou outros médicos da localidade de forma a averiguar a existência de mais doentes no quarto ou quinto piso do sinistro edifício. Um dos seus colegas confirmou uma morte causada por cancro na próstata, cinco anos antes. É neste contexto que o médico toma conhecimento de um estudo geobiológico, onde foram detetadas uma corrente de água subterrânea e um cruzamento de linhas geomagnéticas cuja vertical coincidia exatamente com a localização das camas onde dormiam as pessoas afetadas. Ao analisarem os quartos dos doentes, aperceberam-se que todas as camas estavam localizadas nesse mesmo alinhamento vertical e devido às reduzidas dimensões dos quartos não permitirem muitas variantes para localização da cama, todas foram colocadas sobre a temível geopatia (de geo — Terra e pathos — doença, ou seja, doença provocada pelas radiações provenientes da Terra).
Confrontado com tal facto e consciente das 282 mortes ocorridas por cancro em Moulins, com especial incidência num bairro da cidade onde também era comum encontrar vários casos de cancro dentro de um mesmo prédio, o Dr. Picard inicia um estudo geobiológico para averiguar a eventual relação entre o espaço e a saúde dessas pessoas. No referido bairro francês, mais especificamente no subsolo das habitações pertencentes às referidas vítimas, foram encontradas falhas geológicas a 150 metros e linhas de água a 80 e 60 metros de profundidade, cujos efeitos nocivos são amplificados por cruzamentos de linhas geomagnéticas.»
Extraído de “Uma Casa Mais Saudável, Uma Família Mais Feliz” – Marcelina Guimarães e Miguel Fernandes da Esfera dos Livros
O trabalho do Dr. Picard em Moulins destacou a importância de considerar os elementos invisíveis do ambiente na conceção de habitações seguras e saudáveis. As descobertas sobre radiações telúricas e o seu impacto na saúde reforçam a necessidade de uma abordagem holística e responsável na arquitetura e construção. Num mundo onde o cancro continua a ser um dos maiores desafios da medicina, repensar os nossos espaços habitacionais pode ser um passo fundamental para a prevenção.
Na Habitat Saudável acreditamos que as casas devem proteger, nutrir e promover o bem-estar, e cabe-nos garantir que a ligação entre a Terra e os seus habitantes seja equilibrada e harmoniosa.